É tarde eu já vou indo...

A porta estará sempre aberta. Caberá a você ousar entrar, espiar, invadir e decidir descobrir o que tem do lado de dentro.
Não posso ser responsável pelas suas impressões, elas serão simplesmente suas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Onde eu coloco o lixo?


Foto: A própria

Não se esqueça nem por um dia:
quando o seu carro ao cruzar o farol da esquina vazia e - como numa aparição - aquele moleque gritar:
- Passa a bolsa tia!
Não se esqueça nem por um dia.

Não se esqueça nem por um dia:
de sua carteira abatida e você jaz ali, riscada da lista da vida. Pode crer, por detrás da alça de mira daquela arma vadia, estarão os filhos do Brasil dois mil, que o nosso dinheiro financia.
Não se esqueça nem por um dia.

Não se esqueça nem por um dia:
da geração das palavras de Ordem, “da Liberdade antes que tardia”.
Não se esqueça nem por um dia.

É isso: dos anos setenta a dois mil, ficaram pelo meio, os anos oitenta que esta geração produziu.

Pasmo em constatar que não temos mais pelo que lutar.
Caíram todas as Bandeiras.
Fecharam nossas trincheiras.
Derrubaram todos os mitos.
Transformaram a história num rito de almas abandonadas a vagar.

Cabeças desabitadas.
Mentes vazias.
Não sabem nem o nome da Tia, que dirá o significado da palavra “anarquia.”

Varreram de suas vidas a ideologia.
Enfiaram-lhes goela abaixo as marcas e patentes da massificação dormente que, pensam eles, ser a nova rebeldia.
Não se esqueça nem por um dia.

Não se esqueça nem por um dia:
que fizemos nós, produzindo nos anos setenta, os alicates de corte das correntes que hoje predem os corpos adolescentes a mentes tão dementes!

Cheiram a vida no pó reluzente e seus discursos eloqüentes, não passam de monossílabos babados, saindo por todos os lados a toque de um baseado.
Não se esqueça nem por um dia.

Que língua é esta desta gente? Sânscrito ou qualquer dialeto indecente?
Da materna nada se sabe.
Sinto-me só neste Continente de robóticas turbinadas e neurônios aniquilados.

Caíram todas as Bandeiras.
Fecharam nossas trincheiras.
Não há pelo que lutar.

E que saudade de Chico em sua doce melodia! “Estava à-toa na vida pra’ ver a banda passar...”

Que me perdoem Vandré, Chico e Luiz Melodia, mas nem o Estácio alivia os sentidos dos erros cometidos, pois esta não era a liberdade que eu queria.

Niterói-RJ/2003

Um comentário:

Anônimo disse...

Ameiiiiiiii!!!!!!!!